O homem fala da mulher. É assim que começa o livro “Anarquistas, graças a Deus” de Zélia Gattai. Seu marido, Jorge Amado, é o autor do prólogo da obra que fala do desabrochar da escritora Zélia. Apesar de ser casada com um escritor, a autora não escreveu desde sempre, “batia a máquina” para o marido apenas, mas não criava os textos.Zélia demorou a começar a escrever, mas logo se deu conta de que tinha muita história pra contar. É, aliás, daí que nasce o livro. Incentivada pela família, ela resolve escrever todas aquelas histórias que contava em casa, e que histórias! O cotidiano de uma família de imigrantes italianos numa São Paulo que recebia um fluxo enorme dessa população, as influências que eles trouxeram da terra natal e o convívio que tinham com outros imigrantes renderam tanto que Zélia escreve nos contos do livro toda a sua infância.As histórias são fascinantes, pois, além de revelar uma porção de curiosidades sobre a cidade paulistana daquela época, nos leva a esse cenário da imigração. Em um conto do livro, Zélia e as irmãs acham no guarda-roupa dos pais, documentos de emigração deles e resolvem perguntar aos pais e ao avô materno a história da vinda da família. Descobrem que o pai, Ernesto Gattai, veio para o Brasil depois de ficar sabendo sobre a Colônia Cecília – uma pequena colônia anarquista fundada em Palmeira, no Paraná, que acabou durando pouco, fazendo com que a família viesse morar em São Paulo.Essa é uma característica marcante dos personagens (reais) desse livro: eram bastante ativos politicamente, dado que reforça a imagem do italiano dessa época, o indivíduo que preza pelos seus direitos, fortalece a luta. Agora o título faz sentido!Mais do que deliciar com histórias encantadoras, “Anarquistas, graças a Deus” se mostra uma obra interessante, pois afinal, a Alameda Santos na qual Zélia Gattai morava é a mesma que existe hoje, as ruas do Bixiga, os bairros do Brás e Barra Funda, pelos quais andou a família Gattai e mais um bocado de italianos!
Foto: Blogger |
Baixei dia desses em meu EBOOK esse livro maravilhoso, que alias tenho ele impresso também comprei ele em 1986 quando trabalhava de office boy nas ruas da cidade de são Paulo, cidade onde nasci, assim como Zélia Gattai,tambem tenho origens italiana, meu avo materno nascera na Calábria,se instalaram na cidade de garça (interior de São Paulo antes de fixar residência na cidade de SP. Estou me emocionando muito com as histórias que me faz lembrar de minha infância na periferia de são Paulo que era muito semelhante com a que descreve, ruas de terra com difícil acesso quando chovia, meu pai assim como seu Ernesto estava ligado diretamente com os automóveis, afinal sempre trabalhou nas indústrias automobilísticas instaladas em São Paulo e no ABC, meu pai apesar de ser filhos de espanhóis também foi um anarquista e participou ativamente dos movimentos grevistas e de protestos contra o regime militar principalmente no final dos anos 70. Me emociono muito com seu conto de memórias da saudosa Zélia, que bom se pudéssemos viver eternamente, mas infelizmente a vida é assim, estamos apenas de passagem e Deus nos dá apenas a concessão de vivermos um período neste mundo e depois nos leva para junto dele, os pioneiros da família gattai agora ficam apenas na saudade e na recordação de um tempo que não volta jamais.
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